Domingo, 20 de Julho de 2008

O Princípio da Relatividade é a primeira pele de Maya

 

Mário, o Big Bang, apesar de ser uma teoria ingénua, introduz algo de muito importante: a compreensão de que a matéria não tem uma idade infinita. Já consciencializaste bem isto, de que a matéria não existe há uma eternidade, mas apenas há uns quantos milhares de milhões de anos?”


Sim... não estou a perceber onde queres chegar...


O campo de uma partícula não se estabelece instantaneamente, pois não?”


Pois não, o campo propaga-se com a velocidade da luz...


Então...?”


Ah, creio que estou a entender-te... os campos das partículas vão crescendo ao longo do tempo...”, os olhos do Mário incendeiam-se, “no início o campo teria uma alcance nulo, e foi crescendo sempre, à velocidade da luz, continua a crescer hoje e continuará a crescer no futuro... é a soma da energia da partícula e do seu campo que tem de ser constante, não é a energia da partícula!!!!


Mário estava siderado. Luísa e Ana expectantes.


Pois claro, a energia da partícula alimenta o campo... a partícula descarrega-se para o campo como um condensador descarrega a sua carga eléctrica...


Um condensador? O que é isso?


É um dispositivo que acumula carga eléctrica.”


Uma bateria?


Algo mais simples Ana, onde não existem processos químicos; mas podes pensar em baterias. A energia de uma partícula será como a carga de uma bateria: no início, está com carga plena, mas vai-se descarregando ao longo do tempo para alimentar o contínuo crescimento do campo. Tens aí certamente um ponto, Jorge. Porém, isso implicaria duas coisas!” Mário com um ar algo triunfante.


O quê?”


A primeira é que os modelos actuais do Universo teriam de estar errados, porque são baseados na invariância da matéria; teria pois de existir uma enorme discrepância entre a teoria e as observações.


Mário, os modelos actuais são como o modelo de Ptolomeu. São modelos da APARÊNCIA da realidade. O modelo de Ptolomeu acertava com os dados da época tal como eles eram obtidos da observação. Podemos sempre fazer modelos matemáticos de qualquer conjunto de dados.”


Nas filosofias indianas existe o conceito de Maya, que cria a ilusão do mundo físico e nos esconde a percepção da verdade sobre o Universo, ou Brahman; de certa forma, o que estás a dizer tem paralelo neste conceito, é como se os modelos Físicos fossem modelos da aparência gerada por Maya e tu queres romper esse véu para alcançar a verdade acerca do universo...” Luísa sorri-se, mas o seu sorriso tem agora um brilho diferente, é uma luz quente de admiração, e não apenas um rasgo de alegria.


Excelente comparação Luísa! O conceito de Maya existe na ciência, e foi introduzido por Galileu: é o Princípio da Relatividade!!!!” Pauso, esta afirmação precisa de tempo para ser percebida. Não comentam, esperam que eu continue:


Antigamente, as propriedades gerais da Natureza eram personalizadas como deuses, como na mitologia grega, pois o conhecimento tinha a forma de «religião»; hoje, a Física não usa «deuses», usa «princípios», como o da Relatividade, o princípio da Acção Mínima, o princípio Cosmológico e outros. O Princípio da Relatividade é a poderosa ilusão de que estamos em repouso no centro de um Universo eterno e imutável.”


Então a Física também tem uma Mitologia!”, o sorriso de Luísa abriu-se mais e eu estou a sentir-me estranhamente atraído.


De certa forma, podemos dizer isso, sim”, assenti, “mas devo dizer-te que o Princípio da Relatividade é só o primeiro véu da Aparência, a primeira pele de Maya. Não é a Verdade que eu tento alcançar, nem imagino o que possa ser, apenas quero ultrapassar a primeira camada.”


Vocês estão a falar de cebolas?”, o Mário ri-se, interrompendo a ponte de olhares que se estabelecera entre mim e a Luísa e me suspendera. Noto o olhar silencioso da Ana. “Vamos à segunda consequência de considerar que a partícula é a fonte do campo: se assim fosse, a diminuição da energia das partículas deveria seguir uma lei exponencial, pois essa é a lei de descarga de um circuito desse tipo!


Lei exponencial? O que é isso?


Significa que a energia da partícula se deve reduzir a metade em intervalos de tempo iguais; esse intervalo de tempo tem o nome de semivida do processo. Os materiais radioactivos têm um comportamento deste tipo. Por exemplo, o Urânio 238 tem um tempo de semivida de 4,5 mil milhões de anos, o que significa que uma determinada quantidade desse Urânio se reduz a metade ao fim de 4,5 mil milhões de anos, a ¼ ao fim de 9 mil milhões de anos, etc. Estás a perceber?


Isso quer dizer que o Urânio que existe hoje na Terra é metade do que existia na Terra inicial?


Isso mesmo. Já vi que percebeste!


Mário, acabaste de dar um contributo importante: definiste qual deve ser a lei do desvanecimento: será uma lei exponencial! A lei que surge como a(t) na tabela da evolução das grandezas será uma lei exponencial. Mário dixit!


Mário corou ligeiramente, “Sim, mas as obervações têm de estar de acordo com isso, ou as tuas ideias estarão erradas.


Vamos ver se é assim ou não. E vamos saber qual é o tempo de semivida da matéria, ponto de partida para sabermos muitas outras coisas sobre o Universo.”


 

 

publicado por alf às 00:36
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21 comentários:
De leprechaun a 26 de Julho de 2008 às 00:49
Ó Alf-chefe:

De tanto pensar e matutar – agora até co'a Física ando a sonhar, à falta de outro físico despertar ;) – ainda acabo por ficar inteligente, querem lá ver?! :)

O certo é que estes dois blogs são mesmo os mais estimulantes que jamais conheci... mor sábio que nunca vi!!!

Ora assim sendo, então a ciência, como filosofia natural, é pois inseparável da metafísica ou dessa tal reflexão a priori sobre a realidade em si, que o mero método experimental não pode desvendar. Talvez seja esse o significado último do princípio da incerteza, só por este caminho não vamos lá!

Assim, adormeci e acordei a pensar que apenas a inteligência desvenda a inteligência, ou a vera ciência se faz pela via subtil da consciência. Como era apanágio dos sábios no passado.

Ah! mas como temos o tal exemplo do Aristóteles, o melhor será não exagerar demasiado no pensamento auto-focado! ;)

Ou seja, o que eu quero dizer é que por certo não chegaremos ao âmago do segredo se deixarmos de considerar que o objecto da nossa busca também é inteligente, e deveras foi dele que recebemos essa faculdade única que nos permite inquirir acerca da origem e da finalidade.

Talvez por isso, a mim sempre me pareceu muito insatisfatória qualquer visão do mundo que não contempla essa subtileza "divina". Ou ainda, considerar que o Universo é bruto e um calhau gigante, que se transformou e evoluiu por mero acaso, não me soa nadinha inteligente, essa é ideia de algum cérebro indigente! ;)

Logo, esta contínua descoberta é como um jogo de xadrez apaixonante, em que o nosso opositor tem no mínimo bastante mais experiência, mesmo que a inteligência do Ser Humano até seja mais refinada ou focada.

De certa forma, e paradoxalmente, o universo é já um embrião inteligente e devemos lidar com ele como se faz com uma criança, respeitando a sua personalidade própria, ouvindo a sua voz e escutando a sabedoria sempre nova e ancestral... desse ventre maternal! :)

Pois, lá desemboco no instinto filial...

Rui leprechaun

(...que a minha via é terna e devocional! :))
De alf a 26 de Julho de 2008 às 03:50
Belíssimo texto. É exactamente com diz. E com isso torna transcendente este próprio universo em que existimos.

Pode alguma vez aspirar a entender o Universo quem não consegue entender o que tão bem expôs?
De leprechaun a 26 de Julho de 2008 às 09:39

Uáu! Estou aprovado... ó milagre abençoado! :)

Puxa, se em Braga me apreciarem tanto assim, vai ser um sucesso sem ter fim! ;)

O certo é que ando entusiasmadíssimo, isso sim, logo Deus (en-theo) habita em mim!

E como os pardalitos no jardim...

Rui leprechaun

(...canto sem saber como aqui vim! :))
De antonio a 28 de Julho de 2008 às 23:04
O meu ordenado desvanece de forma exponencial... serve como prova desta teoria?

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