Os três dirigem-se à janela, donde vêem o Jorge entrar no carro e arrancar rapidamente.
“Bolas, que saída tão apressada!”, desabafa, estranhando, o Mário.
“Será que o Jorge tem medo da luz?” interroga-se a Ana, “… é que sempre o vi de noite, nunca de dia…”
“Bem, dentes de vampiro não tem!”, ri-se a Luísa.
“Olhem, esqueceu-se dum caderno sobre a mesa!”
“É verdade… sabem contactá-lo?”
“Não, ele nunca me deu um contacto”, esclareceu a Ana. “Conheci-o no Bairro Alto, e fomos combinando encontro a encontro sem nunca nos termos telefonado. Temos de esperar que ele nos contacte.”
“Será que o caderno foi mesmo esquecido?”
“Que queres dizer com isso?”
“Está tão direitinho em cima da mesa, bem à vista, que mais parece de propósito que por esquecimento.” Como presa incauta na mira de implacável predador, o caderno do Jorge não pode já escapar às garras da Curiosidade.
“Achas que o deixou para nós vermos?”
“Não me espantaria… sei tão pouco dele… as nossas conversas nunca são sobre ele…”
“Vamos ver” A Luísa abre decidida a capa azul do caderno, um «bloco espiral» A5 da Âmbar. Sobre a folha lisa espraia-se uma escrita miudinha e inquieta.
“Porque é que o Sol não tem oscilações radiais, quererás tu dizer...”
“Sim, isso mesmo, porque é que não se observam oscilações significativas de diâmetro ou de radiação no Sol.”
“Bem, a tua pergunta surpreende-me... há estrelas que oscilam, como as Cefeides, mas a oscilação destas é que precisa de ser explicada; agora a não-oscilação do Sol é o que se espera do modelo estelar, o Sol está em equilíbrio entre a pressão gravítica e a pressão exercida pela radiação do núcleo solar, como seria de esperar.”
“Engano meu caro Mário, um sistema activo nunca está em equilíbrio estático, isso só é possível num sistema passivo em que existam perdas; por exemplo, água num sistema de tubos ou um pêndulo sem alimentação chegam a um estado de equilíbrio porque a sua energia inicial de desequilíbrio é dissipada por atrito e o sistema não gera energia.”
“Ai não? Então num sistema como o Sol o que é que acontece? Não está o Sol em equilíbrio estático?”
“Num sistema activo o equilíbrio é sempre dinâmico, isto é, o estado de equilíbrio é um estado oscilatório. Sempre.”
“Não estou a perceber-te; estás a contestar o óbvio? Nem parece teu... não sabes que o Sol não oscila??”
“Parece não oscilar porque tem um sistema que absorve essa oscilação antes dela atingir a superfície solar.”
“Ah ah, tu és o máximo! Como as observações contrariam a tua teoria, inventas sistemas misteriosos para explicar o desajuste!”
Percebo que o céu começa a clarear, o Sol está a nascer não tarda e eu tenho um compromisso marcado para uma hora depois do nascer do Sol, tenho de me ir embora. Tenho de encerrar esta conversa.
“Amigos, o Sol vai nascer e eu tenho de me ir embora; não vou poder explicar como funciona o Sol, digo-vos apenas que tem uma oscilação interior, cuja frequência e amplitude também é oscilante, e com um valor médio lentamente crescente. Os ciclos de manchas solares são a manifestação dessas oscilações ao nível da superfície solar.”
“Isso é tudo um disparate; as manchas solares são explicadas pela teoria do dínamo solar e os ciclos solares variam caoticamente, como é evidente pela análise das manchas solares.”
“A teoria do dínamo solar prevê que a energia radiada pelo Sol varie inversamente ao número de manchas e verifica-se exactamente o oposto; quanto ao comportamento aparentemente caótico dos ciclos solares, acontece apenas que a relação entre as oscilações e o número de manchas solares é um pouco como a relação entre a temperatura da água num tacho ao lume e o número de bolhas que rebentam na sua superfície.”
“O quê? Culinária agora? Como é isso?” A Luísa igual a si mesma.
“Se um cientista se puser a contar as bolhas que rebentam na superfície da água, vai fazer um gráfico irregular, com uma óbvia componente caótica; mas o fenómeno que as causa, a temperatura da água, não tem nada de caótico. Por isso, um cientista que entenda a causa das bolhas é capaz de determinar a regular variação de temperatura pela análise do caótico número de bolhas.”
“Queres dizer com isso que és capaz de definir exactamente essas oscilações solares?”
“Conhecê-las é desvendar a «personalidade» do Sol; e isso é fundamental porque o Sol tem personalidade.”
“Que queres dizer com isso?” A Ana subitamente interessada.
“O que suspeitas Ana: o Sol é a origem de todos os mitos, profecias e religiões; perante ele se ajoelha a Vida, e mesmo a mais poderosa e arrogante das suas formas soçobra à sua cólera; o passado e o futuro são marcados pela sua «vontade». Nada é tão importante como compreendermos o Sol.”
“É por isso que o Vaticano tem o maior telescópio óptico terrestre do mundo?”
“Não preciso de dizer mais nada; o que tenho dito chega e sobra para quem estiver pronto para entender; e tenho de sair já já.”
“Livra, que encontro tão misterioso, deve ser alguma fada com hora de aparição...” Sorrio para a Luísa; e saio correndo à frente do amanhecer.
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