“Mário, Mário, o que esconde esse teu sorriso maroto?” A pergunta da Ana surpreendeu-me. Mas o Mário reage como criança apanhada em falta, um ligeiro rubor denuncia-o.
“Bem, hoje o Jorge vinha falar-nos das misteriosas propriedades da Luz, não era? Mas eu temo que tenha de ser um pouco desmancha prazeres. No nosso último encontro o Jorge apresentou a ideia de que a expansão do espaço seria apenas uma ilusão resultante da contracção da matéria, tal como a rotação do universo é uma ilusão produzida pela rotação da Terra. Ora bem, eu estranhei ninguém se ter lembrado de tal possibilidade e fui fazer uma pesquisa. E, lamento informar-te Jorge, mas não tenho boas notícias... sabes, a ciência não é coisa para amadores, como eu muito bem pensava, a possibilidade de alguém fora da ciência dar alguma contribuição importante é, hoje, nula.” Mário gere agora o silêncio, espera talvez uma reacção minha, mas mantenho-me tranquilo. Ele continua:
“Já fez mais de trinta anos que vários cientistas, grandes nomes da Física como Dirac, Hoyle, Narlikar, e outros menos conhecidos, como Canuto, Bouvier e Maeder, analisaram a possibilidade de um universo evolutivo. Especificamente o caso duma variação de escala, que é isso que tu propões, mas houve também quem analisasse a variação da Constante Gravitacional, ou da Massa, ou até mesmo da velocidade da Luz. Ou seja, todas as alternativas possíveis à expansão do espaço já foram analisadas, testadas e sabes o que se concluiu? Que nenhuma delas se verifica!”
Ana e Luisa cruzam olhares. Olham para mim, alguma desilusão nos olhos da Luisa, incredibilidade nos da Ana.
“Mário, a Matemática é uma ferramenta extraordinária, indispensável em todas as áreas do conhecimento; mas é uma ferramenta, apenas isso, cada área tem de ter os seus especialistas que usam essa ferramenta mas não são usados por ela.”
“Lá estás a desconversar. Que queres tu dizer com isso agora? Que a Matemática foi mal usada nos modelos de variação de escala?”
“Disse o Einstein: «desde que os matemáticos pegaram na Teoria da Relatividade, já nem eu a entendo». Eu acrescento: desde que os Matemáticos pegaram na Física, os Físicos deixaram de entender a Física e os Matemáticos nunca a entenderam.”
Mário faz um ar de impaciência e vira-se para a Luísa:
“Bem, parece que o Jorge já esgotou os seus argumentos, está apenas a evitar dar o braço a torcer. E se fossemos beber umas cervejas?”
“Um dos grandes erros dessas análises é o mesmo erro de Ptolomeu”, continuei, ignorando a observação do Mário. “São modelos matemáticos construídos no referencial do observador. Foi o que Ptolomeu fez e foi o que fizeram de novo. O grave erro de ignorarem a Física.”
“Ignorarem a Física, o que queres dizer?” A expressão de Mário fecha-se de novo.
“Assumir que há uma variação de escala no Universo fará todo o sentido para um Matemático mas não para um Físico. A Física lida com entes físicos, embora caracterizados matemáticamente. Mas são «entes», têm de ter comportamentos consistentes.”
“Explica-te!” o Mário seco, a cerveja certamente que vinha a calhar.
“Uma variação de escala resulta da diminuição da unidade de comprimento do observador. Se o comprimento diminui, isso significará que diminuem os raios atómicos e as distâncias entre átomos e, provavelmente, os fenómenos ficarão mais rápidos não é? A velocidade de propagação dos campos e da Luz será a mesma, mas as distâncias serão menores. Ou seja, um relógio atómico ou mecânico marcará o tempo mais depressa, logo a unidade de tempo deverá diminuir também, não é?”
“Eu não estudei o trabalho desses cientistas, não sei o que consideraram a esse respeito.” A confiança do Mário já desapareceu, a dúvida molda-lhe agora a expressão fechada.
“Mas eu estudei Mário. Belos trabalhos de matemática. Mas muito menos matemática e mais Física teria conduzido a melhores resultados. Porque uma partícula é um ente físico. Se a distância entre partículas diminui com o tempo, então é porque a partícula se altera ao longo do tempo, porque são as suas propriedades que determinam essa distância. Ora nós caracterizamos as partículas com os conceitos de massa e carga. Então tudo o que caracteriza a partícula variará com ela. Ou seja:” faço uma pausa, quero que prestem atenção ao eu vou dizer.
“O que se passa no Universo não é uma «mudança de escala», uma «expansão do espaço» ou a variação de uma qualquer constante – é a variação intrínseca das partículas no tempo. E essa é a diferença essencial entre a minha teoria física e todos esses estudos matemáticos que tu vistes.”
Mário está calado, o ar vagamente atordoado. Oiço a Ana:
“E como é que podemos saber como variam as partículas se tu dizes que essa variação é tal que não a podemos detectar?”
“Exactamente por isso, Ana! Tal como as leis da Mecânica podem ser deduzidas simplesmente assumindo que são tais que não podemos detectar o nosso estado de movimento uniforme com experiências locais.”
“Portanto, tu estás a dizer que, tal como na rotação da Terra, o fenómeno em causa é algo que afecta o observador... e todos os modelos que fizemos presumem apenas fenómenos exteriores ao observador... interessante, sem dúvida... esquece lá a Luz e fala-me mais dessa tua teoria.”
Sempre a surpreender-me o Mário. Não posso deixar de sentir admiração. E eu com tudo preparado para falar da Luz. Explicar o Desvanecimento de forma a que elas percebam, assim sem preparação... é um risco, mas é preferível a ir falar da Luz se não é isso que querem.
.
De Diogo a 4 de Junho de 2008 às 12:00
Continuo à espera de discutirmos a teoria da relatividade restrita.
Abraço
De
alf a 4 de Junho de 2008 às 15:01
humm... e se eu abrisse um blogue para a relatividade e outro para o desvanecimento... não era má ideia, mas não sei se chegarei para tanta "encomenda"... por outro lado, tudo isto está relacionado, talvez possa ir saltando entre uma e outra...
hummm... exponho o desvanecimento na forma de conversa e alterno com a explicação da relatividade restrita em posts noutro formato... ou seja, o Jorge expõe o Desvanecimento e o Alf a Relatividade... talvez seja o melhor! O pior é se a cabeça dos leitores começa a ficar baralhada com tanta coisa...
Um abraço
De
antonio a 4 de Junho de 2008 às 18:50
Os matemáticos são os revisores da ciência, e como tal, de lápis azul na mão, estripam qualquer neologismo, a mais pequena fuga ao convencional e o que não vem no seu prontuário.
Se já não foi inventado é burrice... por isso uma pessoa que conhecemos dizia quando alguém o questionava: está no livro.
Qual livro? - perguntavam os cépticos.
No que eu hei-de escrever... um dia.
De
alf a 4 de Junho de 2008 às 20:22
António
Os matemáticos, os cientistas, são pessoas, pessoas como todos nós... e os problemas dos sistemas são os problemas de todos nós, da nossa ainda ignorada natureza humana.
Por isso é que essa pessoa que nós conhecemos tinha de dizer isso - todos nós andamos de lápis azul na mão, estripando tudo o que não é suportado pela fonte das nossas crenças - seja a religião, a ciência, os media, o professor.
Aos pensadores autónomos resta dar essa resposta: está escrito no Livro!
Pelo que eu o conheço, a amigo antónio deve ter de recorrer a essa resposta com frequência...
Mas olhe, eu não penso que esteja mal, penso que é bom que umas pessoas defendam a estabilidade e que outras a desafiem com novas ideias.
Nós só temos de compreender como é que "as coisas são" e depois encontrar o caminho. Que não é fácil, nenhum caminho é fácil.
Delicioso e sábio o seu comentário!
De leprechaun a 26 de Junho de 2008 às 22:34
Ora cá temos o observador no centro de tudo!
Mas não me parece que neste novo modelo físico a consciência do observador desempenhe algum papel. Afinal, o Einstein torcia o nariz a isso...
Ao que vou lendo, este é um modelo racional e sem "magias", em que o universo tem pois uma existência própria e que não depende de haver ou não um observador independente, será?
Por outro lado, isto da mente e da consciência também está a precisar de um revolucionário assim, já que parece ser mais fácil descobrir as leis que regem o universo exterior do que o interior.
Em suma: quer então isto dizer que todas estas sapiências que endeusamos... os Hawking e Penrose e Magueijo e demais tipos de queijo... sabem tanto disto como eu...
Rui leprechaun
(...sempre cabeça no céu! :))
De
vbm a 30 de Janeiro de 2009 às 20:14
Ando a ver se leio esta conversinha devagar...
a preto - o Jorge, narrador
a cinzento - o Jorge 'com os seus botões'
a azul - o Mário
a vermelho - a Luísa, namorada do Mário
a verde - a Ana, namorada do Jorge, a que 'transcende' o blogue.
Mas, nesta fase da conversa,
universo e observador,
um ponto de ordem à mesa:
- o universo é tal que se avera co-possível
e compatível com observadores que o inteligem .
Se tal compatibilidade fosse impossível,
o universo por muito que existisse,
em si e por si,
não teria qualquer realidade.
Note-se, contudo,
que para o universo ser real
não é necessário que haja, de facto,
observadores: - é suficiente que eles [
Error: Irreparable invalid markup ('<br [...] <a>') in entry. Owner must fix manually. Raw contents below.]
Ando a ver se leio esta conversinha devagar... <BR><BR>a preto - o Jorge, narrador <BR>a cinzento - o Jorge 'com os seus botões' <BR>a azul - o Mário <BR>a vermelho - a Luísa, namorada do Mário <BR>a verde - a Ana, namorada do Jorge, a que 'transcende' o blogue. <BR><BR>Mas, nesta fase da conversa, <BR>universo e observador, <BR>um ponto de ordem à mesa: <BR><BR>- o universo é tal que se avera co-possível <BR>e compatível com observadores que o inteligem . <BR><BR>Se tal compatibilidade fosse impossível, <BR>o universo por muito que existisse, <BR>em si e por si, <BR>não teria qualquer realidade. <BR><BR>Note-se, contudo, <BR>que para o universo ser real <BR>não é necessário que haja, de facto, <BR>observadores: - é suficiente que eles <BR class=incorrect name="incorrect" <a>seajm</A> co-possíveis no universo: isto é, <BR>que existam. possam vir a existir, <BR>ou hajam existido. <BR><BR>Logo, nós testemunhamos <BR>que o universo é real. <BR><BR>E nenhuma ciência há que independa <BR>do observador, se bem que o haja <BR>de explicar o observador <BR>não seja senão <BR><BR>a coisa observada. <BR><BR><BR>Porque, tudo somado, <BR>não é a teoria que explica o universo, <BR>mas o universo que explica a teoria. <BR><BR><BR>Mas, continuemos, devagar, a leitura... <BR><BR>:) <BR><BR>
De
vbm a 30 de Janeiro de 2009 às 20:15
Que baralhada!
Depois, voltarei, a reescrever.
De
vbm a 30 de Janeiro de 2009 às 22:05
Corrigido, é assim:
Ando a ver se leio esta conversinha devagar...
(a preto) - o Jorge, narrador, proponente de “outra física”
(a cinzento) - o Jorge pensando “com os seus botões”
(a azul) - o Mário, cientista tradicional
(a vermelho) - a Luísa, namorada de Mário, de formação não-científica.
(a verde) - a Ana, namorada do Jorge, cuja filosofia 'transcende' o blogue.
Mas, nesta fase da conversa, de universo e observador,
um ponto de ordem à mesa:
- o universo é tal que se avera co-possível
e compatível com observadores que o inteligem .
Se tal compatibilidade fosse impossível,
o universo por muito que existisse, em si e por si,
não teria qualquer realidade.
Note-se, contudo,
que para o universo ser real
não é necessário que haja, de facto,
observadores: —é suficiente
que eles sejam co-possíveis
no universo: isto é,
que existam ou possam vir a existir, ou hajam existido.
Logo, nós testemunhamos que o universo é real.
E nenhuma ciência há que independa do observador,
se bem que o que haja de explicar o observador
não seja senão a coisa observada.
Porque, tudo somado,
não é a teoria que explica o universo,
mas o universo que explica a teoria.
Continuemos, porém,
devagar devagarinho,
a leitura...:)
De
alf a 31 de Janeiro de 2009 às 00:54
Ao reler este post até me assusto... fogo, que conversinha chata... muita paciência têm de ter os meus leitores!
Amigo vbm, o seu comentário está muito melhor do que o post! Tudo o que diz está certo e está maravilhosamente dito.
(só não sei que há namoros ou apenas namoriscos entre as personagens...)
De Alfredo Castro a 13 de Outubro de 2009 às 16:22
http://www.webartigos.com/articles/25954/1/uma-outra-fisica/pagina1.html
Toda física quântica atualmente aceita, tem como base a dualidade onda/partícula, como descreve a teoria de campos eletromagnéticos.
Nisso, criou-se uma vasta lista de experimentos "complicados", cujos resultados nem sempre se repetem, e diriam: "erro de montagem?"
Mas, se tais experimentos foram dirigidos e "manipulados" com o intuito de "comprovar" teorias falsas?
O que podemos então realmente provar? Em matéria de física quântica, muito pouco. Mas temos de reconhecer a possibilidade concreta da teoria atômica micro-cósmica, pois o espaço, sendo infinito tanto para grandes quanto para pequenas dimensões, nos abre esse caminho.
Ou seja: nosso sistema Solar é um tipo de macro-átomo. O nosso planeta é um macro-elétron, o Sol é um macro-núcleo e cada galáxia seria uma espécie de macro-molécula.
Ora, então todas as partículas subatômicas podem ser na verdade micro-asteróides e afins! Basta ver tudo que há no cosmo, para saber o que há no micro-cosmo!!!
Isso implica no fato de que existe um macro-cosmo, com possíveis macro-seres, e o nosso planeta neste caso é um simples elétron de uma substância desse macro-mundo!
O mais interessante é que, como o infinito o é tanto para o diminuto quanto para a imensidão, obviamente são infinitos os macro e micro-cosmos (cada átomo é um mini-sistema estelar, composto por outros mini-átomos, que por sua vez são outros mini-mini-sistemas estelares, ao infinito, sem falar no mesmo fenômeno ao inverso, os infinitos macro-cosmos, à imensidão).
Mas e as relações de tempo? Ora, muito simples: quanto maior o cosmo, proporcionalmente maior o tempo. Explico: a translação da Terra em torno do Sol dá-se em um ano, o que seria equivalente a uma volta completa de um macro-elétron em torno de seu macro-núcleo. Se um elétron dá "zilhões" de voltas em torno de seu núcleo em fração do nosso segundo convencionado, para seres de um "macro-mundo", um ano nosso dura uma volta do elétron deles.
Isso não é difícil de entender. Para facilitar o entendimento, basta mentalizar que o tempo físico, não existe. O que há é uma convenção entre proporções de movimentos diversos, ou seja, o tempo é simplesmente o resultado do movimento relativo entre os corpos !
(Ver "RELATIVIDADE TRANSVERSA", outro artigo meu, neste site.)
O espaço é mais simples ainda: é um puro vazio! Há até referências bíblicas a respeito: "trevas exteriores", "reino dos céuS". E o que seriam tais céus? Simples: o desdobramento do próprio espaço em infinitos outros espaços interativos, onde interagem diretamente os corpos "sintonizados" numa faixa de velocidade limite, bem superior à da luz convencional (explico melhor em "Relatividade Transversa"). Quando por algum motivo, tais corpos são acelerados a uma velocidade acima desse tal limite, eles tendem a mudar de espaço interativo.
Como exemplo, cito UM "big-bang": a matéria de uma estrela gigante, por se tornar cada vez maior por absorção meteoróide, fica supercomprimindo a barreira repulsiva da sua antimatéria centro-astral, até aniquilá-la, quando há o explosivo contato entre matéria e antimatéria. (Ver "Estabilidade Orbital Astronômica", outro meu artigo, neste site.)
Dessa violentíssima explosão, os fragmentos assumem velocidades muito superior à da luz, ocorrendo dois fenômenos:
1) No espaço interativo da referida estrela, surge, como um "ralo", por atração gravitacional da matéria condensada a mudar de espaço(S?), o tão falado "buraco negro";
2) No, ou melhor, nos espaços interativos novos, para onde tal matéria e antimatéria foram projetados pela dita explosão, surgem indeterminados "big-bangs"! (Ver "Uma Origem Para o Nosso Universo", também de minha autoria, neste site.)
Mas o espaço continua sendo um só, que como o tempo, não é nada.
Tempo e espaço são puríssimos vazios, tanto que sem a matéria, não se definem. Por exemplo, não se pode medir uma distância sem um referencial de partida MATERIAL. E se pudéssemos parar todo o movimento de micros e macro-cosmos simultaneamente: parar todas as partículas subatômicas, enfim, parar todo o movimento de todos os corpos, estaríamos
De Alfredo Castro a 22 de Outubro de 2009 às 14:37
(continuação do comentário anterior)
parando o TEMPO. Porém não é necessário tanto. Sendo muito mais rápido, como o vôo de uma mosca, tudo ao redor se torna relativamente "mais lento".
Se pudéssemos "viajar" para um "macro-mundo", aumentando a nossa capacidade visual, sem alterar o nosso padrão de tempo, veríamos os seres desse tal mundo literalmente PARALIZADOS.
LOGO, a teoria da relatividade está errada, pois o tempo não pode ser dilatado ou comprimido, já que ele não é um ente físico. Onde estão os "viajantes do futuro"? E o espaço também não pode ser "encurvado": é apenas um puríssimo vazio. Não oferece resistência nenhuma e não conduz nada (a luz e o calor são partículas provenientes de explosões subatômicas, ver "A LUZ", outro artigo que publiquei neste site).
Alfredo M. Castro, autor.
alfredomc1@hotmail.com
http://www.webartigos.com/articles/25954/1/uma-outra-fisica/pagina1.html
De Waldir a 22 de Agosto de 2010 às 02:45
Sr. Alfredo, há muito tempo eu não lia tanta baboseira como o senhor escreveu.
De jonathas luan a 1 de Janeiro de 2015 às 03:56
gostaria de saber quais são suas teorias sobre magnitude no universo.
Comentar post