Amigos, fazer teorias é comigo, expo-las é outro assunto... muito mais difícil!
Ideias novas são muito difíceis de apresentar porque dão muito trabalho a entender e quem é que vai estar disposto a fazer esse esforço, sabido que é que elas são quase sempre disparates???
Tenho andado à procura da fórmula mágica de um texto que eu possa usar para divulgação; depois de muitas voltas creio ter chegado a algo suficientemente bom. No último trimestre deste ano espero poder começar essa divulgação.
Há um tempo certo para cada passo, e há um conjunto de passos que têm de ser dados para que no fim se consiga chegar ao resultado pretendido. É disso que ando a tratar.
Um abraço e obrigado por manterem o vosso interesse
A quem estiver a ler o artigo que anunciei no post anterior (amigo Curioso, este post é especialmente dedicado a si :-)) venho pedir que liste as partes, as secções ou subsecções, que lhe parecerem mais difíceis de ler ou, simplesmente, chatas. Este texto destina-se a uma gama alargada de pessoas e coisas que podem ser simples para umas podem ser muito confusas para outras, pelo que a contribuição de diferentes pessoas ajudará a conseguir um texto mais claro. E, claro, apresentem também as dúvidas, pontos de discordância, contestações. Obrigado, eu e os futuros leitores ficaremos muito gratos.
Amigos e leitores
Os dados estão lançados... finalmente consegui uma versão do modelo do Universo que me satisfaz. Submeti a uma revista, provavelmente a primeira de muitas, que estas coisas são mesmo assim.
Podem aceder ao artigo aqui:
https://sites.google.com/site/scalinguniverse2011/
Avancem com as dúvidas e questões que tiverem, nada me dará maior prazer do que analisá-las
Um obrigado pelo vosso interesse e pela vossa paciência
Da reacção à versão anterior do Abstract concluí que ele precisava de ser melhorado, tornado mais claro. Com a colaboração e a orientação recebida por email, está agora assim:
Generalizing Relativity Principle to Comoving Coordinates allows the fitting of cosmic data with no dark matter or dark energy
The standard space expansion model considers two kinds of coordinates: the atomic coordinates, where the validity of the Relativity Principle is established, having the length unit defined from atomic properties, and the comoving coordinates, where space expansion is null. In atomic coordinates Space expands, in comoving ones Matter decreases, evanesces. In this work, as there is no observational evidence indicating that one of these coordinate systems should be any better at supporting physical laws, we postulate that Relativity Principle must hold in both systems. From this postulate we derive a model that fits both cosmic and local data with the same physical laws, needing no new parameters besides Hubble constant, namely no dark matter or dark energy. We also extend the generalization of the Relativity Principle to a more general, new kind of coordinates - the Field coordinates – of which the atomic and the comoving systems are just two particular cases.
The generalization of the Relativity Principle presented here does not conflict with established theories, namely Special or General Relativity. It is presented a prediction that can be experimentally tested: an acceleration component in the rotation of isolated bodies. New results are obtained, such as the long-term evolution of Earth temperature. Já a seguir vem a Introdução, que espero ajude a tornar mais claro o enquadramento da análise
Vamos, por agora, abandonar os 4 amigos; o pombo já deu bastantes voltas, já tomou um rumo, é chegada a altura de submeter à vossa apreciação a versão quase final do artigo.
Neste post, Título e sumário
Generalizing Relativity Principle to Comoving Coordinates allows the fitting of cosmic data with no dark matter or dark energy
Abstract
Cosmic data configures a relative variation of space/matter with no violation of physical laws, as no change in constants has been detected; from these two observational results, we obtain a model that fits both cosmic and local data with the same physical laws and using no new parameter besides Hubble constant. No need for dark matter and dark energy. We do not make any cosmological analysis, we simply consider that physical laws shall hold both in the usual (atomic) coordinates and in the comoving ones, as we have no contrary indication from observations; we end up with a generalization of Relativity Principle to a new kind of coordinates, the Field coordinates, the atomic and the comoving ones being just two particular cases of it. This analysis does not contradict accepted theories and expands our understanding not only of the distant Universe but also of our neighbourhood.
Esclarecimentos:
Sistema de coordenadas: para descrevermos um sistema físico precisamos de atribuir a cada ocorrência coordenadas espaciais e temporais; para isso, usamos um sistema de linhas graduadas e um sistema de relógios. Usualmente, graduamos essas linhas usando um «metro», uma régua padrão, ou algo equivalente, e usamos um sistema de relógios baseado em fenómenos atómicos. Este é o sistema atómico de coordenadas, porque é graduado tomando como referência propriedades da matéria.
Há outro sistema de coordenadas que se usa em cosmologia: é um sistema que acompanha o espaço «em expansão», ou seja, tal que nele a distância média entre corpos isolados é constante - é o sistema «comoving» em inglês ou comóvel em Português.
Questão aos leitores: o sumário indica uma ideia original e diz que são ultrapassadas duas dificuldades do actual modelo do Big Bang; conseguem perceber quais são?
“There is, therefore, a fundamental question to answer: is it possible to build a model where scale changes in a way that cannot be detected by local experiments?”
“Outra vez? Já leste isso Luísa!”
“Não tenho culpa, ele é que repetiu... e agora a letra muda, parece letra de médico... deixa-me ver se percebo... diz ele que... Não, não posso fazer assim! Estou a pensar à engenheiro, não à cientista. O objectivo do engenheiro é resolver o problema e por isso o procedimento dele é identificar o problema, procurar uma solução, um modelo, independentemente de tudo o resto, e só depois procura compatibilizar o novo conhecimento com o conhecimento anterior. O objectivo do cientista é construir um edifício do conhecimento – face a novos dados, o que ele faz é analisar o conhecimento anterior e procurar obter dele um desenvolvimento que explique os novos dados. Ou seja, enquanto o engenheiro dá prioridade aos novos dados na análise do problema, o cientista quase que os ignora. Foi o que fez o Einstein, ele obteve a Relatividade especial ignorando o resultado de Michelson-Morley; e o mesmo na Relatividade Geral, onde ele se baseou apenas na equivalência conhecida das massas inerciais e gravíticas.” Luísa levanta os olhos para o Mário, espera certamente uma opinião.
“Sim, de facto o Einstein ignorou ostensivamente o resultado de Michelson, o que faz um bocado de confusão... mas não sei se a opinião do Jorge está correcta, afinal o Minkowsky obteve depois a Relatividade Especial directamente a partir da constância da velocidade da luz e é a versão de Minkowsky que é universalmente utilizada hoje.”
“Sim, mas a questão para o Jorge será saber se a versão do Minkowsky teria sido aceite se tivesse sido feita antes da do Einstein.”
“Ah, pois, isso parece-me uma questão pertinente... realmente, não estou a ver que uma teoria que postula que a velocidade da luz é constante em relação ao observador, qualquer que seja o movimento deste, pudesse ser aceite...”
Luísa voltou a concentrar-se no caderno:
“ Portanto, não posso deduzir a teoria a partir da variação de escala observada, porque isso é um dado novo, tenho de o fazer a partir do conhecimento anterior. Como é que o posso fazer? Tenho de me ater ao Princípio da Relatividade, mostrar que a generalização dele não está concluída, e prosseguir pelas leis fundamentais que sei dele deduzir; ou seja, vou fazer como Newton e estabelecer algumas novas leis fundamentais, deduzidas do Princípio da Relatividade. Hummmmm.... mas como é que sem recorrer aos resultados observacionais eu posso definir qual é a atenuação da radiação no tempo? Seguem-se uns gatafunhos, parece uma espiral com uma ave na ponta... uma ave a voar em círculos? Vou virar a página.”
“ O Jorge está em sofrimento, coitado... “
“O Einstein modificou as Leis Físicas a partir do Princípio da Relatividade. Eu também tenho de modificar as leis Físicas; posso fazer isso a partir dos resultados observacionais mas a análise é muito mais extensa e complexa; ou posso recorrer ao Princípio da Relatividade como instrumento para a formação de Leis. Não foi o Einstein que disse que o PR era a Lei das Leis? É um risco que a grande simplicidade de análise assim obtida pode compensar. O meu Princípio de Maya é que dava jeito, mas só o poderia usar se ele já tivesse sido enunciado anteriormente. Olha, agora muda para letras garrafais:
“Em conclusão, não vou fazer uma análise do problema específico das observações cosmológicas mas sim uma reflexão sobre factos já conhecidos; dessa reflexão resultam duas coisas: novas Leis e uma generalização do Princípio da Relatividade à posição no tempo; desta generalização vai resultar a modificação de algumas Leis Físicas, suportando uma nova teoria cosmológica. Assim faço crescer o «edifício do conhecimento» a partir dele próprio... parece-me bem!”
“Penso que o Jorge está muito enganado. Não adianta nada estar a tentar explicar ideias, as pessoas nunca as percebem. Só interessa «produtos acabados». É por isso que a análise de Minkowsky fez esquecer a de Einstein – o Einstein expõe ideias, raciocínios lógicos, compreensão dos fenómenos, enquanto o Minkowsky apresenta uma calculogia que dá certo no fim. É só isso que interessa às pessoas, a «fórmula resolvente» em si mesma, a maneira como se chega a ela não interessa nada.” O Mário faz uma pausa para pensar; continua:
“O Jorge está a tentar ser acolhido no seio da Ciência, mas tem tantas hipóteses como uma mulher de chegar a Papa. Mesmo os próprios cientistas, quando têm ideias fora do mainstream científico, o que fazem é escrever um livro, sabem que é inútil tentar publicar tais ideias no sistema científico. Porque é que ele não escreve um livro?”
“Porque o objectivo dele está para além da divulgação desta ou daquela teoria. Não sei se ele está certo ou errado, mas sei que está convencido que é necessário que esta teoria surja como uma realização da Ciência e não à margem dela.”
Mário e Luísa ficaram à espera que a Ana continuasse, mas ela nada mais diz. Luísa vira a página do caderno do Jorge.
“Então o Einstein salvou o nosso amor-próprio!” exclamou a inesperada Ana
“Salvou o quê? Que afirmação é essa?”
A Ana inspirou fundo; a sua timidez revelava-se nestas ocasiões em que se tornava o centro das atenções:
“O trabalho do Einstein descreve o Universo como um local onde o espaço e o tempo se confundem e encurvam mas que nós observamos como se não fizéssemos parte dele, como um Deus a olhar para a sua obra. O Lorentz ia dissolver-nos nesse espaço, mas o Einstein arrancou-nos daí e manteve-nos como a medida de todas as coisas.”
“Bem… estás a gozar mas podes não estar muito longe da verdade… o título do artigo do Einstein até era o mesmo do Lorentz, com outras palavras… a grande diferença entre os dois trabalhos está em que o artigo do Einstein mantém a nossa percepção primitiva... e com as nossas percepções primitivas não se brinca hehehe! Para largarmos o centro do Universo foi preciso o esforço de 4 génios, Copérnico, Galileu, Kepler e Newton; não vai ser de um momento para o outro que prescindiremos de ser a medida de todas as coisas. Continua, Luísa.”
“On the other hand, cosmologic observations configure an evolution of scale, i.e., the space expands, in our length units, at a rate independent of direction and distance; the observed invariance of physical laws implies that only a model where physical laws are independent of scale, i.e., a relativistic model of scale, can fit data both locally and non-locally.”
“Bem, espera ai… normalmente quando se fala de algo relativista está-se a referir algo que tem de ser analisado usando as teorias de Einstein... não é isso que ele está a dizer... está a dizer que é preciso uma teoria nova obedecendo ao Princípio da Relatividade sobre o problema da variação de escala...”
“ However, physics laws were established considering invariant matter and space properties and, until now, no way of either of them to vary without conflicting with physics laws has been discovered. Einstein referred to this question on his objections to space expansion theory, which conflicts with laws of dynamics, preventing it for being valid locally.”
“Eh lá, a teoria da expansão do espaço não conflitua com as leis físicas, ela é deduzida da própria teoria da Relatividade Generalizada! Não se aplica localmente apenas porque no seu estabelecimento se adoptou a hipótese simplificativa de ignorar as anisotropias locais na distribuição da matéria, doutra forma os cálculos ficariam complicadíssimos.” Esclareceu o Mário.
“Tenho ideia de ouvir o Jorge afirmar que isso era apenas uma argumentação de fuga ao problema... ”
O Mário encolheu os ombros. A Luísa decidiu continuar a leitura antes que a conversa azedasse:
“ In the search for an alternative to space expansion theory, several authors tried to model such a scale evolution considering the evolution of Length unit, or Mass, or Gravitational constant, but were not successful because their theories imply a change in physical laws.”
“Ah, pois é, as tentativas de modelar os dados considerando uma variação de qualquer característica física correram mal”
“There is, therefore, a fundamental question to answer: is it possible to build a model where scale changes in a way that cannot be detected by local experiments?”
Este post sai fora da sequência do «caderno do Jorge» mas pareceu-me importante em face, e graças, aos comentários recebidos.
Vamos ver como deve ser formalizada uma teoria científica, que é isso que o Jorge tem que fazer.
Nós observamos o mundo e colhemos informação, “factos”, que interpretamos à luz dos nossos conhecimentos e a partir dos quais estabelecemos uma teoria ou tomamos uma decisão.
Por exemplo, vemos uma pessoa a chorar e interpretamos isso como tendo essa pessoa sofrido um desgosto e talvez procuremos descobrir que desgosto foi esse e como poderemos ajudar essa pessoa. Não é o facto em si - a pessoa estar a chorar – mas a interpretação dele que serve de base ao nosso raciocínio e actuação.
(os filósofos têm umas classificações para isto mas não vou usar porque seria mais complicado)
Ora há sempre múltiplas interpretações para o mesmo facto. Por exemplo, a pessoa pode estar a chorar porque lhe entrou uma poeira no olho, ou porque tem um desequilíbrio hormonal, ou na sequência de um ataque de riso. Assim, uma teoria estabelecida sobre uma interpretação de um facto assenta numa base frágil, não produz um conhecimento sólido.
Dirão: bom, mas dessa interpretação deduzem-se consequências, testam-se e assim saberemos se a interpretação está certa ou não.
É um engano. Por um lado, de premissas falsas podemos chegar a conclusões verdadeiras. Numa dedução, a veracidade da conclusão não prova a veracidade das premissas. Por outro lado, nem sempre o teste é fácil e imediato. Em Ciência, as teorias são construídas sobre os dados existentes e testar significa confrontar com novos dados, que estarão dependentes duma evolução tecnológica ou duma lenta transformação dum sistema.
No que se refere à Física, uma teoria assente em interpretações de observações teria sempre uma base frágil, não serve como estrutura para um «edifício de conhecimento».
Qual é a alternativa? É construirmos as teorias, os modelos, unicamente com teorias matemáticas sobre factos tal como observados, ou seja, sobre postulados obtidos por indução sobre factos tal como observados.
Há uma grande dificuldade nisto porque o facto observado não é um facto absoluto mas apenas um facto relativo a nós e nós não sabemos o que somos porque não nos podemos medir; mas há conjuntos de observações das quais se pode extrair um facto físico independente do observador e de interpretações – por exemplo, a Lei da Inércia ou a independência da velocidade da luz em relação ao movimento da fonte.
Por outro lado, uma teoria assim construída não é falsificável, no conceito de Karl Popper, pois um modelo matemático pode sempre fazer-se acertar com os novos resultados, quaisquer que eles sejam: basta acrescentar um novo parâmetro por cada novo resultado. Um novo parâmetro equivale a mais um postulado e este não assenta em factos directamente observados, logo, a introdução de parâmetros é uma transgressão. Esta introdução é condicionada à verificação experimental directa do parâmetro; por exemplo, no modelo do Big Bang introduziu-se o parâmetro «matéria negra» e agora busca-se a sua confirmação por observação directa.
Porém, o que acontece é que este processo é repetível ad eternum, isto é, faz-se uma experiência para detecção do novo parâmetro, não dá certo, então acrescenta-se mais um parâmetro, transferindo-se para a detecção deste a validação da teoria. É o que se passa com a teoria Atómica desde o parâmetro «neutrino».
É por isso que em Física as teorias não são «verdadeiras», são apenas «a melhor das disponíveis». E existem dois critérios para avaliar as teorias, de que se falará num dos próximos pontos do «caderno do Jorge», sendo um deles o número de parâmetros: quanto menos, melhor a teoria. O Big Bang é ainda a melhor teoria cosmológica disponível, apesar de ter sido necessário acrescentar novos parâmetros (energia negra, matéria negra, inflatão) para a acertar com as novas observações. O mesmo com a teoria Atómica.
Vejamos exemplos da aplicação destas ideias a teorias Físicas.
O modelo de Ptolomeu era construído sobre um facto tal como observado: os astros circundam a Terra e esta estaria imóvel porque nenhuma observação detectava movimento. Parece metodologicamente certo, do ponto de vista da Física. Mas estava errado porque a presunção de que o movimento da Terra seria detectável por experiências locais estava errada.
O Modelo de Copérnico estava mais certo; mas era metodologicamente inaceitável porque assentava numa interpretação dos factos observados, a interpretação de que o facto de vermos o Sol descolar-se no céu era o resultado de a Terra rodar, que não estava apoiada em nenhum facto, pois não se detectava nada que pudesse ser consequência directa do movimento da Terra.
Mas não se poderia fazer uma teoria melhor que a de Ptolomeu postulando um sistema heliocêntrico, mesmo sem se conhecer as leis do movimento e da gravitação? Podia, mas acontece que qualquer teoria que dure mais do que uma geração transforma-se num mito, e para derrubar um mito não basta uma teoria «melhor», é preciso uma teoria indiscutível.
Para a teoria heliocêntrica ser aceite cientificamente, foi necessário construi-la sobre factos tal como são observados. O modelo de Newton não parte da hipótese dos planetas andarem à volta do Sol, ele assenta num conjunto de propriedades observadas directamente a partir das experiências, nomeadamente na Lei da Inércia.
Da mesma forma, o trabalho de Lorentz peca porque assenta na ideia de que existe um meio, um éter. É evidente que existe, tal como era evidente para o Copérnico e Galileu que o Sol era o centro do sistema planetário; só que nós não observamos directamente esse meio, portanto, ele não é um «facto tal como obtido da experiência». O que nós observamos da experiência é o «campo», é a independência da velocidade da luz em relação à da fonte e é a independência das leis físicas em relação ao movimento do observador, consubstanciada no Princípio da Relatividade.
O Einstein estabeleceu as suas teorias sobre estes factos, tal como obtidos da observação, e isso fez toda a diferença. Os resultados de Lorentz podiam ser contestados porque assentavam na ideia de um éter e este não é observável; mas os de Einstein não podem. Uma pessoa pode dizer que «não acredita», que «não pode ser», mas isso é inútil, a única coisa que importa é se a dedução dele tem ou não falhas. Por acaso tem uma pequenina falha, o Einstein tinha consciência dela, salientou-o, mas ninguém parece ter percebido ou sido capaz de encontrar uma alternativa.
Também a teoria da expansão do espaço não assenta numa interpretação de factos. Contrariamente ao que muitas pessoas pensarão, ela não se deduz do desvio espectral para o vermelho nem duma hipótese de expansão do espaço baseada numa interpretação do desvio para o vermelho. Ela deduz-se das equações da Relatividade Generalizada de Einstein aplicadas a um certo cenário. Ou melhor, ela é uma interpretação possível duma solução dessas equações. Mas a verdade é que subjacente a ela, embora não formalmente, está o mesmo erro de Ptolomeu, a presunção de que somos invariantes porque se não fossemos o detectaríamos.
Onde é que se situa apresentação da Teoria da Evanescência neste quadro?
O “Jorge” poderia fazer a descrição do processo de Evanescência e provar que as observações estão de acordo com as previsões; teria uma teoria claramente melhor que o Big Bang porque com menos parâmetros. Mas não pode ser assim, seria vulnerável à contestação.
A teoria da Evanescência tem de ser deduzida de equações já pertencentes ao «edifício do conhecimento» e de postulados decorrentes de factos tais como observados. Não é esse o processo de descoberta, mas esse é o «produto final».
Tal como fez Newton. Ou seja, o “Jorge” não pode colocar nenhuma hipótese ou interpretação de factos. Tal como Newton, tem de poder dizer «hypotheses non fingo». Oiçamos Newton:
I have not as yet been able to discover the reason for these properties of gravity from phenomena, and I do not feign hypotheses. For whatever is not deduced from the phenomena must be called a hypothesis; and hypotheses, whether metaphysical or physical, or based on occult qualities, or mechanical, have no place in experimental philosophy. In this philosophy particular propositions are inferred from the phenomena, and afterwards rendered general by induction.
Por estas razões não pode ser usado o nome «teoria da Evanescência» porque isso já implica uma interpretação do fenómeno; será apresentada apenas como uma análise relativista do problema da escala, ou seja, de como pode ocorrer uma variação de escala sem que seja possível detectá-la por observações locais, portanto, com conservação das leis físicas.
A teoria tem de se basear exclusivamente em postulados decorrentes das observações e ser exclusivamente matemática, sem qualquer conjectura de natureza física. Esse é o desafio que se coloca ao «Jorge».
“Introduction”, informou Luísa sobre a segunda página.
“É o esquema clássico dos artigos científicos”, esclareceu o Mário. “As revistas de topo já não seguem esse esquema, torna o artigo mais longo.”
“One can describe physical systems, whatever the inertial motion, field and position in time and space of the observer, using the same physical laws on measures relative to the observer and considering that one-way light speed is constant in relation to him; this fundamental property, first spotted by Galileo, the Relativity Property, has the peculiar and unexpected characteristic of inducing the observer in the wrong perception of being privileged, of being at some sort of centre of the universe.”
“Essa do observador ser induzido a pensar que está no centro do Universo... bem, nunca tinha pensado assim...” Mário quedou-se meditativo. “O Einstein intrigava-se com o facto de as leis físicas terem a forma mais simples possível... de facto, as coisas passam-se como se o observador estivesse num centro do Universo... Continua.”
“Applying Relativity property imply the use of the concept of «rigid body», i.e., the length unit is defined from the size of some measuring rod and the description so obtained is understood as if length unit were independent of direction, motion, field or position in space and time. This is fully in accordance with experience: the Universe can be described using «rigid-body» geometries and no local experience contradicts it.”
“Exacto! E se assim é, então os corpos são mesmo invariantes, essa é a conclusão da experiência, que se pode entender num cenário de espaço-tempo variável.”
“One can note that from the physics of bodies there is no ground to presume that bodies are «rigid», because their size depends on propagating fields and, therefore, can be influenced by external fields and motion. About a decade before Special Relativity, Lorentz and Fitzgerald considered, independently, as an explanation for the result of Michelson experiment (1881), a contraction of bodies with motion; however, Lorentz analysis of electrodynamics considering the contraction of bodies, published in 1904, was supersede in the following year by the more straightforward Einstein work using Relativity Principle on the «rigid-body» concept.”
“Exacto!”, exultou o Mário, “o Lorentz desenvolveu um raciocínio muito lógico de acordo com as ideias da época sobre o Universo e, embora tenha conseguido obter praticamente os mesmos resultados do Einstein, a sua análise não tem a elegância nem a simplicidade nem a abrangência da de Einstein.”
“Então o Einstein salvou o nosso amor-próprio!” exclamou a inesperada Ana
“Salvou o quê? Que afirmação é essa?”
“Ena, está escrito em inglês...” surpreende-se a Luísa, “e o título é: Abstract! Não me digam que o Jorge escreveu um texto sobre arte!”
“Não, não, isso não é um título; «abstract» é «sumário» em inglês, os artigos científicos começam sempre por um «abstract»; isso deve ser a minuta de algum artigo que ele estará a preparar.” O Mário pegou no caderno para confirmar. “É isso mesmo, isto é o rascunho de um artigo” sentenciou e devolveu o caderno à Luísa. “Lê tu que eu percebo mal a letra dele.”
“Bem, cá vai: The concept of «rigid body» is a pillar of today’s physics models; however, the fact that one can not detect by local experiments a variation in atomic length unit is not an evidence of its invariance, somehow as the fact that one can not detect by local experiments Earth motion is not a proof that Earth “does not move”.” Luísa pára de ler. “Não percebi nada; o que é isto do «rigid body»?”
“Quando estás a medir um comprimento, presumes que o teu metro não varia de tamanho ao longo da medida, não é?”
“Claro! Se variasse, a medida não fazia sentido!”
“Isso mesmo; portanto, presumes que o teu metro é invariante, é um «corpo rígido»; em ciência também se presume que a unidade de comprimento é invariante, isto é, que o seu tamanho hoje é igual ao de ontem, não depende do tempo, como não depende da direcção, da velocidade, do campo, ou do ponto do espaço onde nos situamos.”
“Presume-se? Não se sabe?” questiona a Ana.
“Nada nos indica que não seja invariante, embora, num continuum material, isso não se possa detectar. Pode fazer-vos um pouco de confusão, mas se todos os corpos forem igualmente esticados numa direcção, nós não damos por nada porque tudo varia da mesma maneira, o metro e os objectos a medir. Por isso, mesmo que os corpos não sejam rígidos, isso nada altera. Não vejo qual seja o interesse em discutir esse conceito. Mas continua, Luísa.”
“In both cases, it is exactly the impossibility of measuring the change that reveals fundamental properties of the Universe. In this paper, it is presented an unknown geometrical property that allows the metric of space to hold in a «non-rigid body» universe; this is a first step in building a model of the Universe free from «rigid-body» concept. Surpassing the idea of «rigid body» corresponds somehow to surpassing the idea of geocentrism. Ena, esta parece-me forte… estavas a dizer que discutir o «rigid body» não interessa e ele vem dizer que é um conceito como o geocentrismo...”
Mário fica pensativo. “Bem, num continuum material, que é a situação que temos na Terra, não interessa; agora, se for num sistema de corpos isolados no espaço, já pode não ser bem assim, porque as distâncias entre corpos não mudam, portanto qualquer alteração dos corpos, do «metro», origina alteração nas medidas das distâncias. Lembro-me agora de ter lido há algum tempo, já não sei onde, que o Riemann se preparava para acabar com o conceito de «corpo rígido» quando morreu de tuberculose. A senhora das limpezas encarregou-se de deitar fora os seus papéis, por isso não se sabe nada dos seus estudos não concluídos. O Riemann foi quem desenvolveu a geometria que permitiu ao Einstein fazer a Relatividade Generalizada.”
“Então achas que o Jorge fez o que o Riemann queria fazer?”
“Bem, acho que isso seria muita areia para a carroça do Jorge... ele pareceu-me mais empenhado na Física do que na geometria... além disso, se o metro variasse, com a direcção por exemplo, isso notar-se-ia nas medidas espaciais, a geometria ficaria alterada... não, o Riemann já deveria estar doente quando disse isso, o facto é que nunca ouvi falar dessa possibilidade, se isso tivesse alguma razoabilidade certamente que seria objecto de debate, constaria dos problemas para resolver, etc.”
“E o que é isto da “métrica do espaço” de que o texto fala?”
“A métrica é simplesmente a fórmula que permite calcular a distância entre dois pontos a partir da diferença das suas coordenadas; por exemplo, num plano é o teorema de Pitágoras; se for sobre uma superfície curva já a coisa se complica; e ainda se complica mais quando generalizamos a espaços com mais dimensões do que as duas do plano ou das superfícies a que estamos habituados.”
“Mas o Jorge diz que apresenta uma propriedade desconhecida que permite que a métrica do espaço se mantenha num universo onde o metro varia...”, a Ana, com ar desconfiado.
“Propriedade desconhecida? Mas há lá agora propriedades desconhecidas na geometria!! Que disparate! Se o metro variasse com a direcção acontecia logo uma coisa: os triângulos rectângulos deixariam de satisfazer o Teorema de Pitágoras, como é óbvio, pois as medidas dos lados viriam alteradas.” O Mário agora irritado. A Luísa achou por bem continuar a leitura:
“Our second step is the analysis of the simplest «non-rigid body» case, the relativistic scalar change of length unit, obtaining Scale Relativity, i.e., a model where physical laws are independent of scale. The application of Scale Relativity to cosmological data leads to the Theory of Evanescence, which seems able to fit relevant cosmic data using only one parameter, the Hubble constant. Cá está, a Teoria da Evanescência de que ele esteve a falar... o que é isto da Relatividade de Escala?”
“Nunca ouvi falar, é uma invenção dele... embora eu esteja a entender... a expansão do espaço tem as propriedades de uma variação de escala, e já houve várias tentativas de construir modelos alternativos ao Big Bang baseados numa variação de escala... todos falharam porque presumiam sempre a variação de uma qualquer constante física e isso não se observa... ora ele diz que fez uma teoria relativista da escala, onde não há variação de leis físicas, logo de constantes... isso já é interessante...” Os olhos do Mário adquiriram o brilho especial que os iluminava sempre que uma nova ideia surgia no horizonte. “Continua.”
“Besides letting off dark matter and dark energy, it applies at all distances and to all matter distributions, and has relevant consequences concerning the past and future of Earth and Life. There is no conflict between what is presented in this paper and established theories, namely Relativity theory. E acabou!”
“Pois, ele já disse aqui que não precisava dessas coisas «negras»... o Big Bang só se aplica a uma escala em que a distribuição de matéria possa ser considerada uniforme, não se aplica dentro das galáxias, por exemplo, é por isso que ele diz que a teoria dele se aplica em todos os casos... consequências sobre a Terra e a Vida? Deve ser o lado melodramático dele... é melhor ele cortar isso ou nenhuma revista o publica... depois afirma que não conflitua com a Relatividade mas também não vai ter sorte, o conflito começa logo quando ele ataca o conceito de corpo rígido, qualquer referee percebe isso e não é pelo facto de ele fazer essa afirmação que alguém vai deixar passar isso.”
“Então, e se ele estiver certo?” A Luísa provocante.
“Não tem hipóteses, pedir a um referee que deixe passar uma coisa dessas seria como pedir a um bispo que deixasse uma mulher dizer missa; há coisas que simplesmente são intocáveis. Mas vira a página para vermos o resto.”
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