“A minha dificuldade, nesta altura, está em definir o ponto de partida da minha análise. Poderia começar nas Leis Físicas mas parece-me importante começar um pouco antes, começar por estabelecer qualquer coisa acerca da natureza do Universo. Como pensam vocês que é constituído o Universo?”
“Bem, tenho lido que o Universo é constituído por Matéria, Matéria Negra, Energia, Energia Negra, Radiação...”
“Bem, isso são muitas coisas, não te parece Ana? Mas ninguém ainda viu a matéria negra ou a energia negra, são apenas parâmetros introduzidos nas equações do BB para as acertar com as observações... algo que o Galileu certamente repudiaria. Esquece o que leste Ana, diz-me apenas como é constituído o Universo que tens na tua cabeça, aquele que a tua percepção construiu.”
“Matéria e Espaço vazio?!?”
“Exactamente Ana. Esse é o modelo de Universo sobre o qual as actuais teorias são construídas. Um Universo feito de partículas num espaço vazio. Mas há imensas dificuldades num tal modelo. Para explicar os campos de forças é necessário inventar partículas que serão as mediadoras dos campos. Por exemplo, a atracção gravítica seria devida a umas partículas que se baptizaram de «gravitões» mas que ninguém sabe definir. As radiações têm de ser suportadas em partículas; mas como a sua natureza ondulatória é incontestável, surge a dualidade onda-partícula. Por outro lado, do espaço vazio podem emergir pares de partículas, como nele podem igualmente «desaparecer», transformando-se em radiação.”
“Lá vens tu com a ideia de um aether, estou mesmo a ver. Mas sabes que já foi provado que ele não existe. Se existisse, a matéria teria de interagir de alguma forma com ele ao deslocar-se, teria de existir um «vento de aether» que nós detectaríamos. Ora está provado que não existe tal «vento de aether»; logo, o espaço é mesmo vazio.”
“Parece lógica e irrefutável, a tua conclusão, não é Mário?”
“Parece e é!”
"A conclusão lógica não é essa, é a de que o Universo não é feito de matéria e aether, uma das duas coisas, tal como as concebemos, não pode existir."
"Claro! Mas como a matéria existe concerteza, logo o aether não existe!"
"A contaminação dos sentidos é dificil de superar meu caro Mário. Vou mostrar como ela nos pode enganar. Imaginemos o seguinte: uma barra de ferro, com uns furos que a atravessam aqui e além. Estão a imaginar?”
“Estamos!”, o riso da Luísa é um sopro de vida; onde vai ela buscar tanta energia?
“Agora vamos dar uma marteladinha num topo da barra. Uma vibração é assim criada na barra. Essa vibração vai propagar-se dentro da barra, não é verdade?”
“Claro!”
“A vibração propaga-se no interior da barra sem dificuldade até que chega a uma parede da barra. Esse é um obstáculo intransponível, a vibração só existe dentro do ferro, o espaço exterior não a suporta. Então, a vibração choca com a parede da barra e é reflectida para o interior desta. Certo?”
“Certo.”
“Agora, mais um esforço de imaginação: vocês são a vibração! É uma experiência imaginária, do tipo das «gedanken experiments» a que o Einstein recorria frequentemente. Vocês são a vibração, estão dentro da barra de ferro. Como é que descreveriam a vossa experiência no interior da barra?”
“Tens cada ideia... mas isso é divertido!” Os olhos da Luísa brilham de excitação, “Estou a imaginar-me dentro da barra, a voar no seu interior... ahh, mas eis que chego à parede, pimba! Choco com a parede e volto para dentro da barra como uma bola que ressalta numa parede!”
“Exactamente Luísa! Para ti, que és uma vibração, o ferro é o teu meio de suporte, para ti o ferro é transparente, invisível; já o espaço exterior, vazio, surge-te como uma parede, é impenetrável. Repara como o que era maciço, o Ferro, te passou a surgir como o «vazio», enquanto que o vazio exterior passou a ser «maciço», impenetrável! E como «vês» tu os furos que atravessam a barra de ferro?”
“Os furos? Olha, lá vem um, bem no meu caminho, pumba! Choquei com ele, sou de novo atirada para o interior da barra!”O Mário e a Ana fazem como eu, é claro, a pantomina da Luísa obriga-nos ao riso.
“Isso mesmo Luísa, um furo na barra surge-te como se fosse um objecto impenetrável, um «corpo» plantado no teu caminho.”
“E onde queres tu chegar com isso?”
“Estou a mostrar a natureza do Universo. O Universo é como a barra de ferro, um meio que suporta vibrações. Aquilo a que chamamos partículas são como os furos na barra de ferro. Com uma diferença: esses «furos» são uma perturbação do meio susceptível de se propagar nele. Não se propaga como uma onda, mas o seu movimento no meio é ainda uma propagação. É por isso que não faz «vento», é uma perturbação do meio que nele se propaga, não é um corpo que o atravessa.”
“Estás a dizer, afinal, que a Matéria... não existe! Que é apenas uma perturbação do meio. Humm... não deixa de ser uma ideia interessante... embora não completamente original... no fundo, já a mecânica ondulatória assenta nessa ideia... embora isso coloque imediatamente uma questão: de que é feito esse aether?”
“Mário, isso é exactamente o mesmo que perguntar «de que são feitas as partículas?» não é verdade? Porque isso é perguntar «como é a substância do Universo?». E os cientistas vão a correr para os aceleradores de partículas tentar descobrir o interior das partículas para perceber a substância do Universo. E estão certos, porque é assim que ela pode ser encontrada, embora ela não se limite às partículas, pois enche todo o espaço. Mas não vou entrar por aí agora. Importa que percebam que o espaço nos parece vazio porque é o meio onde nos suportamos, tal como a barra de ferro surge invisível a uma vibração que nele se propague.”
“O modelo do aether caiu no ridículo na altura, mas a verdade é que se foi descobrindo que não há forma nenhuma consistente de modelar o universo presumindo que o espaço é vazio. A teoria do BB afirma que o espaço expande. Se fosse «vazio», como poderia expandir? As teorias modernas tratam o espaço como um meio, embora evitem declará-lo para evitar confusões com a antiga teoria do aether. Isso não é novidade para mim, mas confesso que nunca tinha pensado nas partículas como meras perturbações locais desse meio. Embora a verdade seja que o que chamamos de «partícula» é apenas o centro geométrico de um complexo sistema de campos de forças, o que detectamos é apenas campos de forças, que podem ser concebidos como deformações do espaço.” Estou surpreendido com esta afirmação do Mário, ainda agora contestava as minhas referências a um aether... talvez estivesse a pensar que eu estaria a defender o modelo aether / partícula do princípio do século passado... talvez não deva usar o nome de «aether» para evitar essas conotações...
“Estou em choque? Então a matéria não existe?”
“Existe sim, mas é feita da substância do «meio», é uma alteração local do meio, uma deformação do meio, com propriedades bem definidas e estáveis. Podes imaginar o Universo como um meio onde se propagam uns «buraquinhos» e uns «concentrados», que identificamos como as partículas elementares. Vamos então ver que particular propriedade está escondida nas leis físicas?”
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