Quarta-feira, 11 de Junho de 2008

A Substância do Universo

 

A minha dificuldade, nesta altura, está em definir o ponto de partida da minha análise. Poderia começar nas Leis Físicas mas parece-me importante começar um pouco antes, começar por estabelecer qualquer coisa acerca da natureza do Universo. Como pensam vocês que é constituído o Universo?”


Bem, tenho lido que o Universo é constituído por Matéria, Matéria Negra, Energia, Energia Negra, Radiação...


Bem, isso são muitas coisas, não te parece Ana? Mas ninguém ainda viu a matéria negra ou a energia negra, são apenas parâmetros introduzidos nas equações do BB para as acertar com as observações... algo que o Galileu certamente repudiaria. Esquece o que leste Ana, diz-me apenas como é constituído o Universo que tens na tua cabeça, aquele que a tua percepção construiu.”


Matéria e Espaço vazio?!?


Exactamente Ana. Esse é o modelo de Universo sobre o qual as actuais teorias são construídas. Um Universo feito de partículas num espaço vazio. Mas há imensas dificuldades num tal modelo. Para explicar os campos de forças é necessário inventar partículas que serão as mediadoras dos campos. Por exemplo, a atracção gravítica seria devida a umas partículas que se baptizaram de «gravitões» mas que ninguém sabe definir. As radiações têm de ser suportadas em partículas; mas como a sua natureza ondulatória é incontestável, surge a dualidade onda-partícula. Por outro lado, do espaço vazio podem emergir pares de partículas, como nele podem igualmente «desaparecer», transformando-se em radiação.”


Lá vens tu com a ideia de um aether, estou mesmo a ver. Mas sabes que já foi provado que ele não existe. Se existisse, a matéria teria de interagir de alguma forma com ele ao deslocar-se, teria de existir um «vento de aether» que nós detectaríamos. Ora está provado que não existe tal «vento de aether»; logo, o espaço é mesmo vazio.”


Parece lógica e irrefutável, a tua conclusão, não é Mário?”


Parece e é!

 

"A conclusão lógica não é essa, é a de que o Universo não é feito de matéria e aether, uma das duas coisas, tal como as concebemos, não pode existir."

 

"Claro! Mas como a matéria existe concerteza, logo o aether não existe!"

 

"A contaminação dos sentidos é dificil de superar meu caro Mário. Vou mostrar como ela nos pode enganar. Imaginemos o seguinte: uma barra de ferro, com uns furos que a atravessam aqui e além. Estão a imaginar?


Estamos!”, o riso da Luísa é um sopro de vida; onde vai ela buscar tanta energia?


Agora vamos dar uma marteladinha num topo da barra. Uma vibração é assim criada na barra. Essa vibração vai propagar-se dentro da barra, não é verdade?”


Claro!


A vibração propaga-se no interior da barra sem dificuldade até que chega a uma parede da barra. Esse é um obstáculo intransponível, a vibração só existe dentro do ferro, o espaço exterior não a suporta. Então, a vibração choca com a parede da barra e é reflectida para o interior desta. Certo?”


Certo.”


Agora, mais um esforço de imaginação: vocês são a vibração! É uma experiência imaginária, do tipo das «gedanken experiments» a que o Einstein recorria frequentemente. Vocês são a vibração, estão dentro da barra de ferro. Como é que descreveriam a vossa experiência no interior da barra?”


Tens cada ideia... mas isso é divertido!” Os olhos da Luísa brilham de excitação, “Estou a imaginar-me dentro da barra, a voar no seu interior... ahh, mas eis que chego à parede, pimba! Choco com a parede e volto para dentro da barra como uma bola que ressalta numa parede!”


Exactamente Luísa! Para ti, que és uma vibração, o ferro é o teu meio de suporte, para ti o ferro é transparente, invisível; já o espaço exterior, vazio, surge-te como uma parede, é impenetrável. Repara como o que era maciço, o Ferro, te passou a surgir como o «vazio», enquanto que o vazio exterior passou a ser «maciço», impenetrável! E como «vês» tu os furos que atravessam a barra de ferro?”


Os furos? Olha, lá vem um, bem no meu caminho, pumba! Choquei com ele, sou de novo atirada para o interior da barra!”O Mário e a Ana fazem como eu, é claro, a pantomina da Luísa obriga-nos ao riso.


Isso mesmo Luísa, um furo na barra surge-te como se fosse um objecto impenetrável, um «corpo» plantado no teu caminho.”


E onde queres tu chegar com isso?


Estou a mostrar a natureza do Universo. O Universo é como a barra de ferro, um meio que suporta vibrações. Aquilo a que chamamos partículas são como os furos na barra de ferro. Com uma diferença: esses «furos» são uma perturbação do meio susceptível de se propagar nele. Não se propaga como uma onda, mas o seu movimento no meio é ainda uma propagação. É por isso que não faz «vento», é uma perturbação do meio que nele se propaga, não é um corpo que o atravessa.”


Estás a dizer, afinal, que a Matéria... não existe! Que é apenas uma perturbação do meio. Humm... não deixa de ser uma ideia interessante... embora não completamente original... no fundo, já a mecânica ondulatória assenta nessa ideia... embora isso coloque imediatamente uma questão: de que é feito esse aether?


Mário, isso é exactamente o mesmo que perguntar «de que são feitas as partículas?» não é verdade? Porque isso é perguntar «como é a substância do Universo?». E os cientistas vão a correr para os aceleradores de partículas tentar descobrir o interior das partículas para perceber a substância do Universo. E estão certos, porque é assim que ela pode ser encontrada, embora ela não se limite às partículas, pois enche todo o espaço. Mas não vou entrar por aí agora. Importa que percebam que o espaço nos parece vazio porque é o meio onde nos suportamos, tal como a barra de ferro surge invisível a uma vibração que nele se propague.”


O modelo do aether caiu no ridículo na altura, mas a verdade é que se foi descobrindo que não há forma nenhuma consistente de modelar o universo presumindo que o espaço é vazio. A teoria do BB afirma que o espaço expande. Se fosse «vazio», como poderia expandir? As teorias modernas tratam o espaço como um meio, embora evitem declará-lo para evitar confusões com a antiga teoria do aether. Isso não é novidade para mim, mas confesso que nunca tinha pensado nas partículas como meras perturbações locais desse meio. Embora a verdade seja que o que chamamos de «partícula» é apenas o centro geométrico de um complexo sistema de campos de forças, o que detectamos é apenas campos de forças, que podem ser concebidos como deformações do espaço.” Estou surpreendido com esta afirmação do Mário, ainda agora contestava as minhas referências a um aether... talvez estivesse a pensar que eu estaria a defender o modelo aether / partícula do princípio do século passado... talvez não deva usar o nome de «aether» para evitar essas conotações...


Estou em choque? Então a matéria não existe?


Existe sim, mas é feita da substância do «meio», é uma alteração local do meio, uma deformação do meio, com propriedades bem definidas e estáveis. Podes imaginar o Universo como um meio onde se propagam uns «buraquinhos» e uns «concentrados», que identificamos como as partículas elementares. Vamos então ver que particular propriedade está escondida nas leis físicas?”

 

publicado por alf às 00:54
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36 comentários:
De Metódica a 11 de Junho de 2008 às 23:43
Post interessante

Ainda ontem estive a ler sobre a teoria da relatividade e como segundo esta não poderia existir ether e venho aqui hoje e vejo que afinal não devemos por a teoria do ether totalmente de parte...
De alf a 12 de Junho de 2008 às 01:44
Metódica

O Einstein defendeu a existência de um aether em vários documentos. mas não o aether mecânico dos primeiros tempos, mas sim um éter derivado do conceito de «campo»

As ideias de Einstein e a sua teoria da Relatividade Restricta foram completamente adulteradas pela corrente matemática que se apossou da Física a partir de Minkowski. A tal ponto que Einstein disse que «desde que os matemáticos tomaram conta da Relatividade já nem eu a entendo".

A Teoria da Relatividade Restricta permite, como Eisntein escreve na introdução do seu artigo de 1905 «... chegar uma electrodinâmica de corpos em movimento, simples e livre de contradições, baseada na teoria de maxwell para corpos em repouso. A introdução de um «éter luminífero» revelar-se-à supérflua...»

Ou seja, a teoria da relatividade não acaba com o «eter», a teoria da relatividade permite-nos calcular o movimento dos corpos sem precisarmos de saber o movimento em relação ao éter.

E isto é possível por causa da propriedade da Relatividade, que é a de que em relação a um observador, tudo se passa como se ele estivesse em repouso absoluto, quer esteja ou não. É por isso que podemos passar sem saber a velocidade em relação ao éter.

Toda a Relatividade geral é um monumento ao conceito de meio. O que é um «espaço curvo»? Capaz de curvar as trajectórias de corpos e radiações da mesma maneira? Não é um vazio, certamente. É um «meio», um «éter», que se deforma com a presença da matéria. Ou um «campo».

Agora, é preciso perceber que este «meio», este «campo», não é uma estrutura «mecânica», ou seja, não se compõe de partículas. Esse foi o grave erro feito pelos que primeiro analisaram a ideia do «éter» - pensaram que existiam as partículas de matéria e um meio também feito doutras partículas.

Nesse sentido, não parecendo, este post trás um grande avanço ao nosso entendimento do Universo - não há partículas de matéria, só há um meio, cujas perturbações identificamos como partículas ou como radiação; e esse meio naturalmente que não é feito de «partículas» pois estas não passam de uma perturbação dele. É outra a sua natureza!

Tudo o que pode ter lido sobre a relatividade e que não seja assinado por um tal Einstein é para esquecer (há duas ou três honrosas excepções, mas só os conhecedores chegam a elas).

Por ultimo: os defensores do conceito corpuscular da matéria consideram que um campo de forças, por exemplo, o campo gravítico, é um algo produzido por umas partículas chamadas «gravitões». Repare então no paradoxo: os que dizem que não existe um «eter» dizem que o Universo está pleno de «gravitões». Ou seja, inventaram um «eter» de gravitões!!!

hummm..parece-me que vou por um post no « outra margem» a desenvolver isto... ainda bem que pôs a questão!

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